quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Anatomia verbal

Se fosse possível rebobinar, voltar atrás, começar de novo, nada garante que o final seja diferente. O que está feito, está feito. O que está posto, está posto. Palavras ditas não voltam atrás, à boca ou à cabeça. Antes tivessem saído do coração.

Cabeça manda, mas coração manda mais. Na hora de falar bobagem, o coração desmanda, a cabeça encabeça a cena, o estômago regurgita aquilo que havia ficado entalado na garganta esperando uma oportunidade nada oportuna para sair.

E saem aos atropelos, saem pelos cotovelos, e quando a cabeça se dá conta, a boca já falou demais. Aí vem aquele deseja insano de voltar atrás, de dizer que não é bem isso, você não entendeu o que eu disse, não foi isso que eu quis dizer. MAS DISSE.

E depois da enxurrada de palavras erradas, mal escolhidas dentre os verbetes que voavam aleatoriamente entre neurônios cansados, a pessoa se sente arrasada como quem sobreviveu a um tornado. Um furacão sentimental.

Recompor-se após a tempestade pode levar um tempo danado. É preciso esperar o sol voltar a brilhar para secar o que ficou molhado, deixar a luz entrar pela janela, arejar os quartos mofados. E se olhar atentamente, vai achar lá no fundo, escondido sob os escombros, um coração valente.

Surrado, coitado! Moído pelas recorrentes tempestades que passou, bate insistentemente para lembrar ao vivente que a vida continua, que é preciso recomeçar. Olha o céu azul lá fora, respira profundamente, ergue a cabeça e segue em frente.

De nada vale ficar num canto, jogado, entregue às traças. Enquanto o coração bate, novos começos são sempre possíveis, mesmo não voltando atrás. Mude o jogo, troque os personagens, quiçá até o tabuleiro. Jogue os dados para o alto e agarre a nova chance que a vida está te dando agora!


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