terça-feira, 12 de julho de 2011

O ciclista

Segunda-feira nunca fora o melhor dia da semana para ela, embora não fosse gravemente afetada pela síndrome de Garfield. Mas aquele dia começou particularmente agitado. 

Mesmo tendo acordado super cedo, não foi capaz de sair da cama nas duas horas seguintes. Quando enfim venceu a preguiça, foi preparar um chá e algo para comer.

Enquanto sorvia a bebida quente, pensava nos quase infinitos e não necessariamente agradáveis afazeres que tinha pela frente

Despiu-se do desânimo e tocou a vida. Saiu ainda pela manhã, atrasada, como sempre, e resolveu pequenos assuntos nos arredores de sua casa. À tarde iria encontrar um amigo. E depois ainda iria ao banco!

Apesar do encontro com o amigo ser algo que lhe gerava grande expectativa, não foi este o fato que tornou sua tarde inesquecível.

Ela sempre gostou de comédias românticas - e da ideia de que um homem às vezes é capaz de correr atrás de uma mulher, quando realmente a deseja.

Estava parada no farol de uma grande avenida da cidade. Entre as faixas da avenida, havia um amplo espaço para pedestres e uma ciclovia. E foi aí que passou o rapaz de bicicleta. Eles cruzaram os olhares por um breve momento e logo o farol abriu.

Intimamente, ela lembrou de vários momentos em que trocou olhares com homens que nunca mais viu na vida - e talvez nem verá. Então ela percebeu, pelo retrovisor, que este da bicicleta fez a volta e começou a pedalar atrás de seu carro.

Ela riu consigo e desacelerou, pois havia um farol fechado logo à sua frente. O rapaz pedalava cada vez mais rápido e assobiou para ela, que acompanhava a corrida pelos espelhos. Sequer acreditava no que estava acontecendo.

O farol abriu, ela olhou para trás e ele continuava vindo. Lentamente ela foi partindo, mas buscava em sua bolsa um cartão com seu telefone. Havia um outro farol à frente, e desta vez ela esperou por ele.

Quando ele chegou, quase sem fôlego, e lhe disse 'oi', ela sorriu. Ele perguntou aonde ela ia, ela falou o nome do bairro e lhe entregou o cartão com seu telefone.

Então partiu, deixando atrás um rosto ainda desconhecido, sem nome, mas levou consigo a esperança de receber, um dia, talvez, um telefonema ou email daquele ciclista que tanto correu atrás dela.


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